Pensar na fundação de Porto Alexandre, a terra onde nasci, faz-me pensar em primeiro lugar nos meus antepassados.
É, portanto, a eles que quero prestar aqui uma singela homenagem. E através deles a todos os outros que, naquele tempo, desbravaram terras, abriram caminhos, suaram e sofreram naquela maravilhosa terra plena de beleza e riqueza natural.
Ao fazer uma viagem ao passado lembro todos os que, no final do Séc. XIX e princípio do Sec. XX, saíram de Portugal Continental procurando nas colónias uma vida melhor ou, nalguns casos, também uma aventura.
Sabiam, no entanto, que essa vida melhor não estava lá à espera deles. Souberam logo que pisaram aquelas terras que essa vida melhor teria que ser construída por eles.
Quando chegaram, encontraram pouco mais do que nada que se parecesse com o mundo que conheciam. Do nada fizeram casas, traineiras, captações de água potável, latrinas, e depois escolas, igrejas, fábricas, hotéis. Dito assim parece até simples. Dito assim por alguém que só conheceu Angola já com todos estes sinais de civilização europeia, parece até afronta aos que tanto lutaram para fazer tudo isto.
Depois daqueles primeiros grupos outros lhes seguiram o exemplo e durante todo o Sec. XX milhares de portugueses partiram para os então chamados territórios ultramarinos. Felizmente para eles, os que chegaram a Angola nas décadas de 50, 60 e 70 já encontraram a terra desbravada. Os relatos dos pioneiros podem para eles parecer cenas de filme.
Mas foram todos, os pioneiros e os outros, que fizeram de Angola a terra que nós deixámos há trinta anos.
A história da colonização dos territórios portugueses em África está, naturalmente, cheia de erros, contradições, injustiças, alguns pecados mortais.
Alguns falarão mesmo de um pecado original colocando a questão: tinham os países europeus o direito de colonizar e aculturar as terras africanas? Talvez hoje muitos digam que não com a pose de quem afirma uma verdade insofismável.
Mas a maior verdade de todas é a dialéctica da história. A realidade histórica não pode ser apagada. Injusto é julgar a história de ontem com as ideias de hoje.
A história de ontem – com todos os erros e omissões – não faz dos nossos avós exploradores de negros ou ferozes racistas. A história de ontem mostra-nos homens e mulheres valentes no seu tempo. A história de ontem mostra-nos gente que, procurando para si o bem de uma vida melhor, criou em terras africanas incomensuráveis riquezas para a Pátria que amavam.
A história de ontem mostra portugueses algarvios, nazarenos, minhotos, transmontanos e outros que deram corpo à palavra miscigenação criando várias gerações dos que hoje se usa chamar luso-africanos, mas que eram apenas outros portugueses.
Mais tarde, várias gerações depois, foi com profundo espanto e indescritível tristeza que todos eles ouviram dizer que Angola não era deles. Quando todos se habituaram a acreditar que Angola era Portugal e que todos os que nasciam em Angola sob bandeira portuguesa eram portugueses. Infelizmente, a Pátria portuguesa não entendeu assim.
Os meus antepassados
Em primeiro lugar ao meu trisavô José dos Santos Peleira, um dos que algarvios que pertenceu ao grupo que primeiro “descobriu” Porto Alexandre. Dele descende o meu Avô paterno Virgílio Peleira que não tive a felicidade de conhecer.
Do meu bisavô António Alves, de origem Minhota (Ponte de Lima) descende a minha avó paterna Irene Alves Peleira.
O meu bisavô Manuel Francisco Trocado chegou a Angola pela primeira vez em 1921. Dois anos mais tarde traz consigo a mulher - Maria Feiteira Trocado – e os filhos, Baldomero e Nair, a minha avó.
Obrigado a todos por me fazerem ter nascido naquela terra maravilhosa.
Maria Nair Delgado Peleira de Almeida
Lisboa, 6 de Dezembro de 2005
2 comentários:
Conheço um senhor chamado Abílio José Viegas Peleira, que veio de Moçâmedes e está casado com uma filha do Silva Makeiro, vive em Freixo de Espada à Cinta. Pela certa que é parte desta família
O meu nome é Marta Trocado. A minha família Trocado vem da Póvoa de Varzim. Achei interessante saber que tenho parentes em angola. O meu avô chamava-se Francisco Manuel de Campos Trocado, filho de Josué Francisco Trocado e Maria Alves de Campos. Gostava de saber em altura as nossas famílias se cruzaram.
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