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30 de março de 2006

A Visão dos Algarvios



O desenvolvimento de Porto Alexandre esteve sempre ligado à exploração de todo o litoral do Namibe: “trata-se duma região de colonização tardia à escala angolana, que se efectuou numa época em que a escravatura ia perdendo importância; tratava-se, portanto dum território marginal até ao século XX, pois Benguela constituía o marco mais meridional na época de ouro do tráfego negreiro; trata-se também duma franja costeira onde se registou a maior concentração de pescarias, as quais, apenas por si próprias, explicam o enraizamento geográfico dalgumas povoações (por exemplo, Porto Alexandre e Baía dos Tigres); trata-se, enfim, duma área com características climáticas originais, que condicionam relações económicas singulares entre o litoral e o interior.” (1)

É bom notar que, até meados do séc. XIX, a aposta do Governo de Lisboa sempre foi no sentido de implementar na região um plano de colonização com base na exploração agrícola. Foi por iniciativa própria dos colonos, avultando neste aspecto os Olhanenses, que se iniciou a exploração da riqueza marinha do litoral.

Com efeito, “em 1850 havia em Moçamedes «7 pretos oriundos de Luanda ocupados nas pescarias do Estado além de 4 praças da estação naval que utilizavam duas redes boas e outras de algodão fabricadas no local, além de 3 escaleres»; (2) 7 particulares tinham também escaleres, empregando 40 homens, dos quais apenas 3 brancos. Os revezes sofridos pelos agricultores e as dificuldades de comunicações, a instabilidade das populações indígenas do interior, fizeram com que muitos colonos e até funcionários se tivessem dedicado, em maior ou menor escala, à pesca e ao comércio da urzela.” (3)

'' Em 1860 um novo episódio histórico, cujos efeitos se prolongaram mesmo até ao nosso século [séc. XX], teve carácter decisivo na evolução do povoamento e das bases económicas do litoral ao sul de Benguela - o afluxo acidental de pescadores de Olhão. Nesta data, o porto de Moçamedes continuava a servir de ponto de apoio para todas as acções de colonização estimuladas pelo governo de Lisboa que, então, se dirigiam para os planaltos do interior. Esporadicamente, a bordo de muitos navios de escala, chegaram alguns colonos acompanhados de familiares e um ou outro grupo de degredados que, apesar das constantes ameaças de guerrilha dos povos do Nano, eram os efectivos humanos de que se dispunha para prossecução dos objectivos da política ultramarina; essa gente era instalada em pequenos «redutos» de povoamento branco, geralmente protegidos por um forte.

'' Ao invés do que sucedia, os pescadores de Olhão, que eram considerados os melhores do reino e «mui destros na pescaria do mar alto» (4) , principiavam a vir, fruto do acaso, quer pela sua habituação ao mar, quer também depois pela influência das notícias de conterrâneos já fixados. A frequentação do porto de Moçamedes pela tripulação dos navios nacionais, entre a qual se poderiam contar vários algarvios, mostrara as grandes potencialidades oferecidas pelo mar que sulcavam, não só pela quantidade, mas também pela qualidade de peixe que nele existia.
'' Embora na primeira metade do século XIX houvesse alguns algarvios entre os componentes das correntes migratórias que se articulavam em Moçamedes (5) , não se pode falar, antes de 1860, duma autêntica vaga de colonização algarvia. Esta correspondeu a um processo migratório de características originais: enquanto oficialmente se continuava a preparar e a pensar numa colonização de base agrícola, com a vinda de pescadores do Algarve gerou-se uma ocupação espontânea do litoral que se prolongou no tempo, de forma contínua e permanente.” (6)


pesquisa e texto completar de Admário Costa Lindo


1 Medeiros (1) p.18.
2 Felner (1) vol. I, parte V.
3 Medeiros ob.cit. pp. 34/35
4 Câmara (1) p. 362.
5 Iria (1). Ribeiro Villas, citado por este autor, refere que em 1854 se encontravam estabelecidos no litoral correspondente à actual cidade de Porto Alexandre, alguns pescadores europeus, que eram em regra algarvios. Ainda segundo A. Iria, certas medidas de encorajamento à pesca, tomadas em 1856 pelo Marquês de Sá da Bandeira, derivaram da constatação da '' já ... tão vantajosa actividade dos pescadores do Algarve. ''
6 Medeiros ob.cit. pp. 30/31

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