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30 de março de 2006

Maria da Cruz Rolão




“A indústria piscatória em Março do mesmo ano [1861] foi fortalecida com a chegada de novos Algarvios : José Rolão, sua mulher Maria da Cruz Rolão e dois filhos, João da Cruz Rolão e Francisco Pedro da Cruz; Manuel Tomé do Ó, Manuel Galambas e José Mendonça Pretinho; em Julho, da mesma proveniência, de Olhão, no vapor D. António, João da Rosa Machado, José Martins Ganho, João Lourenço Galarão, João do Sacramento Pintassilgo, Lourenço de Sousa Farroba e Manuel Nunes de Carvalho, «o quais trouxeram a primeira rede e se fizeram acompanhar de uma canoa.

”Para intrépidos e valentes filhos de Olhão, a viagem em vapor, tendo barcos seus, não era coisa com que se conformassem; e, assim, Bernardino do Nascimento, O. Brancanes e Francisco Ferreira Nunes, societários do Caíque Flor de Maio, resolveram ir até Mossâmedes, arranjando para isso uma companhia em que entravam, além dos dois, Pedro Mendes. Pelo José (piloto), Manuel Ramos de Jesus Pereira, João da Encarnação Peleira, e um pequeno chamado Baptista.

“O intento desses destemidos, porém, esbarrou contra a decisão das autoridades, que lhe proibiram a viagem, com fundamento nas poucas possibilidades do barco e do diminuto número de tripulantes. No entanto o travão não foi de carácter definitivo. A intervenção do Dr. Estêvão Afonso, junto de José Estêvão, então deputado por Aveiro, removeu a dificuldades encontradas, e os cotados algarvios chegaram a Mossâmedes em 3 de Agosto, daquele mesmo ano de 61.

“Foi à corrente emigratória algarvia que Mossâmedes e baías próximas ficaram
devendo o empurrão que as transformou em apreciáveis centros piscatórios.”

Delgado (2) vol. II pp. 60/61



“Elegeram, entre si, o seu próprio chefe. A escolha recaiu no colono Cruz Rolão, algarvio que deve ter indo da sua terra na primeira viagem do caíque «D. Ana», em 1860, com Francisco de Sousa Ganho, ou no caíque «Flor de Maio», que em 1863 fundeou na baía de Porto Alexandre.

“Cruz Rolão era homem humilde, mas sensato e sabedor. Houve-se muito bem nas funções em que foi investido. Após a sua morte, em data que ignoramos, sucedeu-lhe a viúva, Maria da Cruz Rolão. Esta sabia ler e escrever, tinha alguma cultura e, sobretudo, era possuidora duma coragem e decisão muito fora do vulgar. Impunha-se aos seus administradores e a todos pela sua energia e prestígio. Por várias vezes, Maria da Cruz tomou decisões importantíssimas para a comunidade que chefiava. Em dada altura, os hotentotes, vindos do Sudoeste, acossados pelos alemães, passaram ao nosso território e dedicavam-se à pilhagem e ao massacre. A povoação de Porto Alexandre estava nesta contingência. Porém, a regedora procurou estabelecer contacto com os chefes daquela gente, o que conseguiu, e teve com eles uma conferência, no local denominado por Arco do Carvalhão, a uns trinta e cinco quilómetros para Leste do aglomerado populacional, e este foi salvo.

“Igualmente, em data que não ficou registada ( mas deste facto nos fala o grande almirante Augusto Castilho), fundeou um navio de guerra inglês na baía, em frente à habitação de Maria da Cruz. Pouco depois, os súbditos de Sua Majestade, esquecendo-se que estavam em território duma nação que lhes devia merecer muito respeito, iniciaram exercícios de tiro para a restinga que forma a baía. Muitos dos projécteis iam cair do outro lado, no mar, onde andavam, calma e despreocupadamente, os nossos pescadores, nas suas actividades. Este acto arrogante levantou protestos das mulheres e crianças que estavam em terra, porquanto traziam no mar os maridos, pais e irmãos. Em pranto, dirigiram-se a casa da regedora e pediram-lhe que acabasse com aquele abuso do navio estrangeiro.Maria da Cruz mandou içar a Bandeira Nacional num tosco mastro que tinha à sua porta, meteu-se num bote e dirigiu-se para bordo do navio britânico. Saias arregaçadas, punhos cerrados, gesticulando e no seu fraseado de gente do mar, intimou o comandante inglês a acabar imediatamente com a perigosa brincadeira. Aquele, que apenas deve ter compreendido a indignação e o desassombro duma verdadeira mulher de armas, fez suspender o fogo, abandonando o fundeadouro no dia seguinte.”

Moreira (1) pp. 20/21


pesquisa de João Manuel Mangericão e Admário Costa Lindo

1 comentário:

Anónimo disse...

De referir a estátua de Maria da Cruz Rolão, colocada à entrada de Porto Alexandre, nos inícios da década de 70 (foi feita em cimento, composta por 2 ou 3 peças, pintada depois da cor do bronze - escultura executada em Sá da Bandeira, de onde a transportou meu pai, J. A. Rebanda, motorista da Câmara Municipal de P. Alexandre).

P.S. - havia ainda uma outra estátua, esta em bronze, erigida anteriormente, em homenagem ao Pescador (foi também transportada por meu pai, creio que igualmente de Sá da Bandeira). Presumo que estas obras tenham sido apeadas e talvez destruídas.