SEGUIDORES

24 de fevereiro de 2006

P.Alexandre: Os Primeiros Colonos



“Assim se passaram três séculos e meio sem que fosse iniciada a colonização e ocupação efectiva das terras do Cabo Negro. Para o Sul, a vida do homem parecia quase impossível. A paisagem era desoladora. As areias movediças, batidas pelo vento, avançavam impiedosamente para o Norte. Não havia vegetação. Não havia água, não havia nada.

“Mas o termo de posse firmado pelo primeiro homem branco a pisar esta região do Globo, impunha-nos não só um direito como também um dever: ocupar efectivamente e colonizar, ainda que para tanto fossem necessários os maiores sacrifícios.

“Por outro lado, a viagem do explorador francês João Baptista Douville, de 1827 a 1830, ao interior africano, e a sua estadia no porto de Moçamedes, a que fez referência detalhada num trabalho apresentado ao Governo do seu país, editado em 1830, levou Portugal a pensar a sério na ocupação e colonização destas terras. Porém, somente em 1854 foi possível tal realização. Assim é que, em 6 de Dezembro daquele ano, dois navios de guerra portugueses – o brigue Serra do Pilar e o brigue-escuna Trindade - fundearam na enseada do Pinda, formada a Norte pela ponta do Cabo Negro e a Sul pela restinga da velha Angra das Aldeias.

“A bordo do primeiro navio vinha o major Marcelino António Norberto Rudzki, encarregado de formar a nova colónia, nas terras desertas do Sul, conforme portaria provincial de três de Novembro daquele mesmo ano. No segundo vinham homens e material para a construção das novas instalações militares.

“Passados dois dias, no cimo da falésia sobranceira à enseada, já flutuava a bandeira azul e branca e era iniciada a construção do novo estabelecimento.

“À iniciativa oficial seguiu-se a particular, e, pouco tempo depois, o comerciante Manuel Joaquim de Sousa Monteiro ergueu, junto à primeira feitoria, uma casa destinada a um estabelecimento.

“Estes foram os primeiros. Estavam lançadas as bases, embora num ponto onde hoje nada existe, a não ser as actuais instalações piscatórias da margem esquerda do Curoca, junto à foz, perto do primeiro local.

“As primeiras iniciáticas foram infrutíferas, mas é possível que tenham estimulado as que se seguiram anos mais tarde. A terra era muito pobre e habitada somente no Vale do Curoca, a uns dez quilómetros para Leste. O gentio reduzia-se a umas dezenas de Cuepes, do grupo Khoisan, denominado geograficamente por Curocas. Viviam miseravelmente. De tempos a tempos deslocavam-se para outras localidades no pascigo de pequenas manadas de que dispunham e a região ficava totalmente deserta. Só com o comércio não era possível iniciar ali a fixação de brancos e negros. Impunha-se a indústria da pesca, naquele local, onde o mar era generoso, e a agricultura nas margens do referido Curoca. Por outro lado, no tempo das grandes chuvas, na região planáltica, o rio enchia assustadoramente, provocava correntes torrenciais, muito perigosas, e não dava passagem da margem Sul para Norte, durante meses. As novas feitorias ficavam na zona puramente desértica, da margem esquerda, portanto isoladas durante as chuvas. Talvez o sítio tivesse sido mal escolhido …

“Surge, efectivamente, a colonização de Porto Alexandre. A designação de Angra das Aldeias já não passava de um ornamento histórico. Por alturas de 1835, o explorador inglês, Sir James Alexander, certamente com autorização do Governo Português, visitou as terras do Sul de Angola, passando, a partir daquele altura, as cartas inglesas a marcar aquela Angra (e até muito mal localizada), com o nome de Port Alexander. Os portugueses aceitaram, cómoda e erradamente o topónimo. No entanto a terra era nossa e, em 1850, heróicos algarvios, os pioneiros da ocupação de todas as nossas baías do Sul e Norte da cidade capital do Distrito, fundaram ali as primeiras quatro feitorias. João Dolbeth e Costa, José Nogueira e um outro colono de apelido Botelho, são indicados como tendo sido os primeiros. Outros se lhe seguiram. Dois anos mais tarde, entrou em Porto Alexandre o caíque Flor de Maio com mais um grupo de abnegados olhanenses.

“Foi esta gente audaz que venceu a dureza e a desolação do terreno, numa ausência confrangedora de conforto. Foram estes homens humildes do nosso povo que venceram a fome, a sede e o tremendo isolamento, escondidos entre as dunas e o mar, batidos constantemente pelo vento agreste, que fustiga sem piedade.”

Moreira (1)

pesquisa de Admário Costa Lindo

19 de fevereiro de 2006

P.Alexandre: A Descoberta.



“A segunda largada de Lisboa do notável descobridor deu-se em Abril de 1484, ou no Outono de 1485”. (1) Na viagem anterior Diogo Cão chegara à costa de Benguela: “A ponta Choca foi o ponto anotado a seguir, pela pequena armada, sendo-lhe dado o nome de Castelo de Alter Pedroso; e, finalmente, mais abaixo, foi atingido, em 28 de Agosto [de 1483], o cabo do Lobo (cabo de Santa Maria), onde Diogo Cão colocou o padrão de Santo Agostinho.”

“Entretanto, Diogo Cão, ultrapassando o cabo do Lobo, deteve-se no cabo Negro, onde colocou o seu terceiro padrão [ 1 2 ], em 16 de Janeiro de 1485 (ou 1486); e cabo Negro, porque o monte, na costa, rodeado de areia, cobria-se de mato raso, que o escurecia. A região era quase deserta. (2)

“A seguir a armada fundeou na angra das Aldeias (Porto Alexandre), assim classificada em virtude das duas aldeias indígenas ali encontradas, cujos habitantes se dedicavam à pesca. Depois, descendo mais abaixo, o navegador entrou na Manga das Areias (Baía dos Tigres), com duas léguas na largura da boca, estendendo-se cinco ou seis, pela terra dentro, e com 12 a 15 braças de fundo. Também aqui o peixe era a riqueza exclusiva. Os negros mantinham-se com ele e construíam abrigos com costelas de baleias que davam à costa e com seba do mar. Tudo o mais era areal confrangedor, desprovido de água, enquanto a navegação era difícil e perigosa, fora da reintrância grandiosa e acolhedora.

“Continuando a sua marcha, Diogo Cão passou o golfo da Baleia, para fundear, a seguir, no cabo da Serra, onde colocou o ultimo padrão. (3) De considerar a ausência de referências ao Cunene, relacionadas com a sua viagem, certamente por o rio não ser notado, devido à natureza da foz.

“Finalmente, avistando, mais a baixo, a baía das Sardinhas e a Serra Parda (ponta dos Farilhões), Diogo Cão deu por finda a sua missão, tornando ao Zaire; fazendo-o, por certo, com mágoa de não prosseguir a rota, por falta de mantimentos, ou torturado pela desilusão sofrida quanto ao caminho da Índia, na hipótese de supor que alcançara o termo austral de África na primeira viagem.” (4)



DELGADO (1) 1º vol. pp. 65/71.
pesquisa e texto complementar de Admário Costa Lindo
__________________________

(1) DELGADO, ob.cit. p. 65
Não se pode fixar, com segurança, a data da saída de Diogo Cão, continuando a ser alvo de controvérsia. O ano mais referido é o de 1484. Mas, há quem discorde. O dr. Damião Peres, por exemplo, considera a sua partida como realizada em 1485. Foi Martin Behaim, no seu globo de 1482, quem, assinalando a passagem de Diogo Cão pelo Cabo Negro, lhe marcou baliza, por estas palavras: “Aqui foram levantadas as colunas do rei de Portugal a 18 de Janeiro de 1485, ano do Senhor.” O ilustre catedrático da Universidade de Coimbra contesta a data, porém, por esta forma: “Deve entender-se que o ano de 1485 da legenda corresponde na contagem habitual moderna a 1486, tendo o Behaim usado ali, certamente, o estilo da Anunciação, segundo o qual os anos começam a Março e não em 1 de Janeiro.” Nota 4 da p. 414

(2) Este padrão encontra-se na Sociedade de Geografia, bem como o do cabo do Lobo.

(3 ) Este padrão foi recolhido, em 1893, pelo comandante alemão Beder, que o levou para o seu pais.

(4) DELGADO, ob.cit. pp. 68/71
Sabe-se que é este o termo da segunda viagem de Diogo Cão devido à legenda latina da carta de Martellus, de 1489, cuja tradução é a seguinte: “Até este monte que se chama Negro chegou a armada do rei de Portugal (João) segundo, da qual armada era comandante Diogo Cão, que erigiu uma coluna de mármore em memória do facto e seguiu avante até à Serra Parda, que dista do Monte Negro mil milhas, e aqui morre.” Nota da p. 71

14 de fevereiro de 2006

P.Alexandre: Toponímia e 1ªs Letras

Extracto de ”Primeiras Letras em Angola” - Edição da Câmara Municipal de Luanda - 1973
de
Martins dos Santos - pp 81 e 82


PORTO ALEXANDRE: TOPONÍMIA E PRIMEIRAS LETRAS



Esta conhecida povoação angolana corresponde à antiga Angra das Aldeias, a que se refere já o famoso clássico português, Duarte Pacheco Pereira, no seu célebre Esmeraldo de Situ Orbis. Diz este escritor que o nome lhe foi posto porque Diogo Cão achou ali duas grandes sanzalas de nativos, e por tal motivo lhe chamou assim.
Bartolomeu Dias visitou também esta baía, onde abandonou uma urca, depois de a esvaziar dos mantimentos que transportava. Deveria antes tê-la incendiado, como habitualmente se fazia em tais circunstâncias.
Em 1770, esteve aqui o conhecido sertanejo angolano, João Pilarte da Silva, em exploração geográfica. E em 1787 a região foi visitada pelo capitão José da Silva, outro explorador do sertão africano. Meio século mais tarde, em 1839, Pedro Alexandrino da Cunha, futuro governador-geral de Angola, explorou igualmente a costa de Porto Alexandre. Nesse tempo era designada por Porto Pinda, embora nas cartas inglesas aparecesse sob a denominaçao de “Port Alexander”.
O padre Ruela Pombo admite que o nome desta cidade se refere, com efeito, ao capitão inglês James Eduard Alexander, que visitou demoradamente as costas de África, a fim de recolher elementos de interesse científico. O regente de Portugal (Ex-imperador do Brasil), D. Pedro e o seu ministro Francisco Simões Margiochi ordenaram ao governador de Benguela que o deixasse transitar livremente, prestando-lhe todo o auxílio de que carecesse e pudesse ser-lhe prestado.
Foi encarregado da construção do presídio ali erigido o major Marcelino Rudzki, que seguia para o seu destino em 4 de Novembro de 1854. Pouco depois juntava-se-lhe o comerciante Sousa Monteiro, que apoiava a iniciativa. No dia 8 de Dezembro desse ano fundou-se oficialmente o presídio. Distinguiu-se ainda na exploração de zona costeira o capitão-de-fragata João Máximo de Sousa Rodovalho.
Estabeleceu-se em Porto Alexandre uma colónia de pescadores algarvios, entre os quais se contava Cruz Rolão; por sua morte, salientou-se pelos seus dotes de coragem e iniciativa a sua viúva, Maria da Cruz Rolão. A data do estabelecimento desta colónia pesqueira foi em 1861.
No final do século XIX, organizou-se a respectiva Comissão Municipal. Em 1895, a povoação era elevada à categoria de sede de concelho. Desempenhou aqui relevantes funções administrativas o tenente Gualdim Martins Madeira.
Norton de Matos mandou construir nesta vila um bairro poveiro, a fim de albergar os pescadores de Póvoa de Varzim, que para ali se transferiram; isso, porém, ocorreu já em 1921, portanto, fora do período que pretendemos estudar.
Apenas na última década do século passado (*) pudemos identificar aqui o primeiro missionário, que serviu de professor. Sabemos que a residência paroquial de Porto Alexandre, que devia servir também para nela funcionar a escola primária, foi construída em 1899. Confrontando esta informação, colhida numa monografia da cidade, com os dados biográficos dos seus professores, chegamos à conclusão de que estava nessa altura à frente da classe o P.e Joaquim Martins Tavares, que consideramos o seu primeiro mestre-escola. Nos primeiros anos do século XX, estava já colocada em Porto Alexandre uma professora de sexo feminino, tinha sido estabelecida a escola de meninas.
Trabalharam nesta localidade, dentro do período estudado, quatro professores, todos missionários, e seis professoras. Talvez a partir de certa altura a escola passasse a ser mista!

(*) Século XIX. N.R.


pesquisa de João Rafael dos Santos

Relembrando Porto Alexandre I





RELEMBRANDO GENTE DE PORTO ALEXANDRE

por Alfredo Baeta Garcia

Parte I




Nota da Redacção
As anotações, referidas entre parêntesis rectos,
são da responsabilidade da Redacção e destinam-se,
apenas, a situar ou esclarecer certos aspectos da narrativa.




Esta relação de gentes de Porto Alexandre foi escrita de memória, mais de 40 anos depois do autor ter saído desta terra.

Não é um recenseamento da população de Porto Alexandre na década de 40. As pessoas aqui lembradas teriam, eventualmente, algumas particularidades que, então, as marcassem, para estarem presentes na minha memória. Dos restantes, que eram em maior número, ainda retenho a lembrança de muitos, mas sem a mesma nitidez e, por isso, não cabem nesta relação.

Em Porto Alexandre, na década de quarenta, existia um grupo de famílias bem demarcado social e economicamente cujos membros, em muitos casos, se tinham cruzado, o que, se por um lado podia dar origem a uma certa hegemonia, por outro contrariavam-na rivalidades que não podiam deixar de existir, pelo que a conjugação desses dois factores permitia um certo equilíbrio que tornava a sociedade alexandrense aberta a todos os estranhos, com um certo cunho de cosmopolitismo à sua medida.
A ordem do rol que se segue não tem qualquer significado especial.




FAMÍLIA SAMPAIO NUNES
Suponho que de origem madeirense e cujo primeiro representante local já havia falecido há anos. No meu tempo ainda era viva sua esposa, a D. Carlota, senhora bastante idosa que vivia com o filho, Sigismundo, meu vizinho pois eu era hóspede da pensão do Chico da Conceição, inquilino da família Sampaio.
O casal só teve filhos:
Albérico, industrial e comerciante, pessoa de fino trato e com aspecto de aristocrata inglês; era casado com a D. Ermelinda, filha dos Tendinha e pais da Gladice, Acrísio e Fernanda;
Edmundo, que foi administrador do concelho e pai do Cap. Arménio Sampaio Nunes que vim a conhecer no Quitexe vinte anos depois, a comandar a 89ª Companhia Independente de Caçadores Especiais, a primeira ali sediada em finais de 1961; Jaime, que foi almoxarife do palácio do Governador Geral, casado com uma filha do Manuel Carvalho, pais da Edite; o último, Sigismundo, casado com uma irmã do Emelino Abano, pais de quatro filhas, entre elas a Sigismunda, a Eunice e a Carlota. Foi meu senhorio, da última casa onde habitei em Porto Alexandre.

FAMÍLIA TENDINHA
Talvez a mais numerosa, da qual ainda conheci o velho Januário e a esposa. Era de Olhão e tinha sido carpinteiro de ribeira. Os filhos que conheci foram os seguintes: Ermelinda, já referida [ na família Sampaio Nunes ]; Januário, casado com uma Frota, era empregado do Sindicato; Avelino, carpinteiro de ribeira, profissão que trocou pela de industrial, de sociedade com o irmão Lourdino; Tomé, pequeno comerciante e pequeno industrial de quem também fui inquilino, de parceria com o Lucas Vicente e de que resultou o casamento deste com a Carminho, filha do nosso senhorio; Marceana, casada com o Prof. Martins que foi meu patrão na Conserveira; uma outra filha, casada com um filho do Correia de Freitas, proprietário d’ ”A Província de Angola”; o mais novo, Lourdino - que deve o nome ao facto de os pais esperarem uma menina, para a qual já tinham escolhido o nome de Lourdes e daí Lourdino – era despachante oficial de alfândega e casado com a D. Josefina, da família Sena, tendo o seu filho mais novo, também Lourdino, levado um tiro que lhe atingiu o fígado, quando prestava serviço militar no Quitexe, onde o encontrei durante a guerra 61/74.

FAMÍLIA SENA
Havia dois ramos provenientes de irmãos, de que apenas conheci o que era cego e pai da Josefina; do António, pai da Gisela; do Alexandrino e de uma Senhora que viveu em Moçambique e que regressou às origens com a família , em finais da década de quarenta.
Ao outro ramo pertenciam o Francisco, sócio da firma “Sena & Ribeiro”, e o Orlando. Eram de origem algarvia.

FAMÍLIA CARVALHO
Algarvia igualmente, com dois ramos provenientes de dois irmãos: o do Manuel e o do Francisco; deste, dois filhos, o Zequinha e o Francisco; do Manuel, o Manelinho, de quem fui inquilino, o Zeca, que era pai da Luísa e da Eugénia, o Eugénio, o Celestino, o Jaime, o Artur – Turra – que teve uma filha que foi Miss Portugal, e uma filha casada com o Jaime Sampaio Nunes.

FAMÍLIA MARTINS DA SILVA
De origem madeirense cuja cabeça, a D. Miquelina, não conheci sequer de vista pois não saía de casa como, aliás, todas as mulheres casadas. Os filhos foram todos empregados da Conserveira, excepto o mais novo, Flávio: Vitorino, carpinteiro de ribeira, casado com uma filha do Avelino Tendinha; Américo, que foi o melhor mestre de sacada do meu tempo; Ângelo, casado com uma filha do Chico Sena; Lúcio, que fui substituir como ajudante de guarda-livros do Serafim Frota, na Conserveira; e uma mulher casada com o António Pires que foi chefe de redacção d’ “A Província de Angola”.

FAMÍLIA SACRAMENTO
De origem algarvia de que mal me lembro: do velho, do qual houve um filho único, o Alfeu, que veio a Lisboa e, de regresso, apareceu de polainitos e com a Cármen Cartier. Uma irmã desta casou com o Francisco Carvalho, sobrinho.

FAMÍLIA PACHECO
No meu tempo era viva apenas a mãe, irmã da D. Miquelina, que também não conheci pela mesma razão da irmã [ vide família Martins da Silva ]. Eram seus filhos: o José, que foi gerente do Banco de Angola; o Justino, que foi empregado de escritório do Albérico Sampaio e ultimamente tinha um Jeep de aluguer para caçadas; o Taruca; e uma rapariga que ficou solteira e que também não conheci, pelas mesmas razões da mãe e da tia. A sua origem era, igualmente, madeirense.

FAMÍLIA SANCADAS
Vivia no Bairro Poveiro e era a que restava da colonização poveira do tempo do Gen. Norton de Matos. Tinha filhos de que pouco ou nada recordo [ recordamos, não obstante, a existência das famílias Trocado e Marques, também dessa colonização ].

FAMÍLIA ARROBAS DA SILVA
O velho Adriano, que aqui terminou a sua carreira administrativa como secretário, era casado com a D. Luísa, em casa de quem fui comensal. Ela era uma santa mulher, por aquilo que lhe aturou e tiveram os seguintes filhos: Fernanda, casada com o Prof. João Cardoso; Emília, casada com o Mário Carneiro; Fernando, que foi funcionário da Alfândega; e João, que veio a ser funcionário administrativo, como o pai, e casou com uma filha do António Alípio. Era de origem cabo-verdiana.

FAMÍLIA BODIÃO
Algarvios, divididos em dois ramos, de quem não lembro os nomes. Um deles tinha dois filhos que foram empregados da Conserveira e uma filha.

FAMÍLIA VIEGAS
No meu tempo só era viva a mãe, que não conheci pelo mesmo motivo das outras. Este facto não deixa de ser estranho, pela razão de eu ter ali vivido, ininterruptamente, onze anos e ter conhecido, efectivamente, toda a gente. Havia os seguintes irmãos: Aureliano (Lianinho), empregado de balcão da Conserveira; o Lila, empregado do Sindicato da Pesca; e o Rui que era o mais velho.

FAMÍLIA ANTÓNIO ALÍPIO ou PANTALEÃO PISOEIRO
Nunca soube qual destes dois nomes era o legítimo; nazareno e mandador da armação da “SOS”. A mulher, Noémia, era da família conhecida pela alcunha de Chimpenso, apenas constituída por mais dois irmãos. Tinham quatro filhas e um filho: uma casada com o João Arrobas; outra, Antonieta, a rapariga mais bonita desse tempo, casou com um primo de Moça-medes , filho do Chico da Conceição, e morreu do primeiro parto.

FAMÍLIA JOAQUIM ROMÃO
Algarvio da Fuzeta. Tinha um filho e duas filhas e era sócio principal da “Parceria de Pesca”. Um cunhado seu, o Manuel Reis, foi seu sócio na fundação da “Lusitana”. Tinha um meio-irmão, o José Rolão, seu empregado que fundou, com o Baldomero Trocado, ao tempo também empregado da “Parceria”, o primeiro cinema permanente instalado na vila e depois foi para Moçamedes inaugurar ali a primeira pastelaria, a “Rollan”, de sociedade com o Zé Lã tendo, antes, começado com uma fábrica de amêndoas, talvez a primeira de Angola.

FAMÍLIA DO Ó FAUSTINO
Era uma família numerosa e antiga que, em parte, se dispersou. Nesse tempo o seu membro mais representativo era o Constantino, sócio minoritário da firma “Antunes da Cunha” e cunhado do sócio principal, que era o velho Albino da Cunha. A sua secção comercial era a mais importante nesses primeiros tempos. O Albino tinha um filho, o Joaquim Albino, que jogou futebol na Académica. Um seu sobrinho, o John, foi o meu maior amigo dessa época, teve um desastre de avioneta em Moçamedes e ficou parcialmente paraplégico, morrendo poucos anos depois, em Lisboa.

FAMÍLIA BARRETO
Também das mais antigas e que, inicialmente, esteve instalada na parte terminal do Curoca, chamada Pinda, numa minúscula fazenda já abandonada em 1943, cujos vestígios eram, apenas, duas ou três palmeiras e deu o nome à rampa que sobe do Curoca ao planalto de Sto. António, chamada “Subida do Barreto”. Só lhe conheci um filho, chamado Alberto.

FAMÍLIA CRUZ
Suponho ser descendente de uma lendária Maria da Cruz Rolão, patrona da escola primária da vila, por ter intimado, na qualidade de Regedora, uma canhoneira inglesa a levantar ferro, o que esta, surpreendentemente, fez, apesar de não existir qualquer força visível que a isso pudesse obrigá-la. Eram seus descendentes, tanto quanto presumo, Carolina da Cruz, mãe e filha. Não sei se o Júlio da Cruz era, ou não, da família.

FAMÍLIA PELEIRA
O pai, Vergílio Peleira, morreu no ano da minha chegada. Tinha um irmão, Veridiano Peleira, que não sei qual era a sua actividade, só que andava sempre encasacado de caqui e gravata e com uma pequena vergasta na mão. Era pessoa de poucas falas, presumo que por timidez. A viúva do Vergílio ficou a gerir um pequeno estabelecimento e uma ou duas canoas de pesca à linha e com isso, equilibradamente, conseguiu acabar de criar os três filhos, dos quais o Tica, que era o mais velho [1], casou com uma filha do Tomé Tendinha.

FAMÍLIA GASPAR
Ele era natural da Figueira da Foz e também faleceu no ano da minha chegada. A viúva era irmã da mulher do Peleira. Tinham vários filhos e uma filha, Ermelinda, que esteve para casar com o José António Neves Graça, mas que o Prof. Martins, quixotescamente, fez abortar sem ter nada a ver com o assunto.

FAMÍLIA NEVES GRAÇA
O pai Neves já se tinha retirado antes de eu chegar, o que era um caso muito raro: quem vinha era para ficar. Tinha dois filhos: o Joaquim, em Moçamedes, na firma “Amadeu Gonçalves & Neves” que era, maioritariamente, do pai; e o José António que, ao tempo, geria a “Sul Angolana”, também da família. O José António tinha o privilégio, único na terra, de ser servido por uma criada branca, já de certa idade, a Senhora Carlota que tinha sido sua ama em casa dos pais, nas imediações do Porto. Tinha um primo, o Mário Carneiro, que foi empregado da “Sul Angolana” e depois se estabeleceu com uma pequena pescaria, ao mesmo tempo que fazia fretes com uma camioneta. Casou com a Emília, filha do Arrobas da Silva.

FAMÍLIA PROF. MANUEL DA PIEDADE MARTINS
Como já disse, ele era casado com a D. Marceana, filha do velho Januário Tendinha. O casal tinha quatro filhos: o Armando, que faleceu pouco depois de chegar em 1975; o Carlos e duas filhas: a Balela e a Gracinha, ambas bastante mais novas que os dois irmãos. O Prof. Martins pediu a reintegração como funcionário, muito mais tarde, e a última vez que o vi foi em Luanda.
(continua)


[1] O filho mais velho de Vergílio Peleira e Irene Alves, é Mário Alves Peleira; vd. comentário de Nair a este artigo, 11:23 PM, Fevereiro 18, 2006

última revisão: 4.05.2006